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30 de dez. de 2010

A palavra penetra em nós

A Cura de Schopenhauer

 Quando a palavra escrita arrepia,  geme e penetra na pele feito sangue a correr nas veias, acontece a sintonia entre o que cria e entre aquele que lê a criação. Foi o que senti ao terminar a leitura do texto “A cura de Schopenhauer”, de  Irvin D. Yalom.
Julius Hertfeld, psiquiatra renomado e defensor da terapia em grupo, vê-se diante da difícil tarefa: enfrentar a morte, companheira fiel desde que descobre estar com câncer terminal.
       Retomando sua carreira como psicoterapeuta, decide procurar um antigo paciente (seu maior fracasso como terapeuta), Philip Slate, viciado em sexo e que se diz curado seguindo os ensinamentos de Schopenhauer e o  convida a participar da sua terapia em grupo.
     É o desfile de conflitos vivenciados por pacientes do grupo de Julius e as discussões filosóficas deste grupo que acompanharemos durante a leitura desse texto fantástico.
     Não desejo falar sobre o enredo do livro, mas sim, sobre o que a leitura de um bom texto é capaz de nos provocar. Tudo foi desejo durante a leitura: a descoberta de Schopenhauer, a busca durante a leitura de informações a respeito desse grande filósofo citado no texto, o suspiro pela palavra que rebentava, o silêncio para escutar os pontos, as vírgulas...
     Durante a  leitura, tudo se fez saudade. O tempo do adormecer, distância necessária do texto, provocou vazio, desejo e sobretudo expectativa por aquilo que viria. Quando a manhã chegava, anunciada pelos primeiros raios, a palavra gritava para acordar leitor que ainda dormia. Então, nada mais era silêncio. A palavra exibia-se e enchia os parágrafos, estruturas e frases de questionamentos, dúvidas, perguntas. Quanto mais avançávamos, mais a busca acontecia. Quando mais nos aproximávamos do texto, mas desejávamos que ele não fosse fim, e enfim, fosse começo. Foi assim desde o princípio. “E o verbo se fez”. Agora, o texto já é distância/presença, pois a palavra já não é mais nossa, mas sim de quem a lerá. Já é presença porque a palavra já é carne a juntar-se aos ossos. Se a palavra alimenta, nutre e nos faz desejosos dela é porque, de fato, necessitamos de sua presença. Então, que a palavra seja nossa eterna companheira e seja possibilidade de passeios pelos mais diversos cantos do nosso eu. VIVA A LEITURA! VIVA A PALAVRA!!!


11 de dez. de 2010

Encontros com a leitura   

 “Quantidade e qualidade coexistem, pois, na literatura infantil atual, na qual a produção massiva compete com sucesso no mercado de bens culturais e a emergência de autores criativos e críticos garante a excelência de alguns textos. A situação é tranqüila para o leitor, que precisa se salvar do bombardeio das obras massificadoras para chegar ao bom texto.” Vera Teixeira de Aguiar
                                                                
     Como afirma a professora doutora Vera Teixeira de Aguiar, a produção da literatura infantil atual, já garante a excelência de alguns textos.
     A idéia de que os livros infantis são muitas vezes simplistas, já  começa a desaparecer, quando vemos uma safra de bons autores nacionais. Antigamente, as histórias infantis estavam carregadas de preconceitos. O bom sempre vencia o mau, toda a menina era doce, as pessoas eram boas ou totalmente más. Os livros inculavam com eficácia conceitos machistas – “homem não chora” – ou preconceitos de qualquer natureza.
     Regina Zilberman e Marisa Lajolo comentam em seu livro Um Brasil para crianças que a literatura infantil apresenta novas tendências em função da nova noção de infância. Hoje, a criança que se apresenta é uma criança inquieta, crítica, participante. Já não aceita com tanta facilidade os livros que são escritos para ela. As crianças de hoje buscam no livro mais do que infantibilidade. Ela admite que os heróis do texto sejam crianças, mas não aceita ser  tratada de forma imbecilizada. A criança percebe no texto quando a pintura que dão a ele é artificial e desgosta dele. Mostrar à criança a felicidade acompanhada fielmente da virtude, e o infortúnio, do vício, é dar a idéia inexata da vida e preparar-lhe futuras amargas decepções.
     A infância é criadora de harmonias e de belezas, quer nos cantos e nas rodas, quer nos brinquedos, no desenho, nos trabalhos manuais, na dramatização. Tudo isto nos adverte da necessidade de, na literatura infantil, dar à criança alimento substancioso à imaginação e de acordo com a sua sede de beleza e harmonia.
     Mas enquanto as crianças pedirem este alimento, parece-nos que nós grandes, não devemos ter escrúpulos em concedê-lo, deixando-as naquele mundo de ilusões tão agradavelmente mágicas e reais ao mesmo tempo, que constituirão para elas, quando se tornarem grandes, assim como os brinquedos abandonados e as carícias maternas – o fundo delicioso da infância.   



Depois da leitura do livro  O rapaz que não era de Liverpool, de Caio Riter, os alunos conversam com o escritor