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9 de jul. de 2010

Literatura infanto-juvenil, a consciência do mundo


Entrevista concedida à Márcia Correa Amaral, professora da disciplina "Leitura e Escrita I" da Fapa, Faculdade Porto-Alegrense.

1- Como você trabalha a leitura e a produção textual com sua turma?

Na escola em que trabalho (Colégio Bom Conselho), há um projeto de leitura. O projeto de literatura nasceu do desejo dos professores de preparar a criança/adolescente para a leitura de mundo. Neste sentido é que o Departamento de Língua Portuguesa e Literatura fez da leitura literária o seu carro chefe. Através da indicação de um livro mensal – clássicos e textos contemporâneos, busca-se formar um leitor e produtor de textos mais crítico. Leitor capaz de perceber o mundo que o cerca e de estabelecer relações entre ele e suas leituras, propiciando espaço para o prazer, para a fantasia, para a imaginação. Assim, busca-se espaço para a interação com os textos através das mais variadas atividades, priorizando-se momentos de produção textual individual e coletiva, debates, encontros com escritores, atividades artísticas, jogos e brincadeiras.

2-O que você julga ser necessário que se faça, do ponto de vista pedagógico para que sejam formados leitores competentes?

Não tenho dúvida sobre a importância do professor nesse processo de formação de leitores competentes. Por isso, é necessário que o professor goste essencialmente do que faz e seja também um leitor competente. O professor não pode encantar o leitor-aluno se já não foi encantado pela literatura/leitura.
Mário Quintana disse certa vez: “Os leitores são, por natureza dorminhocos. Gostam de ler dormindo”. Nesta mesma direção, Moacyr Scliar nos ensina: “Ler não é uma coisa natural do ser humano; tem que ser aprendido”. A escola deve ser palco para que essa aprendizagem da leitura se concretize. Esse desejo pela leitura só depois de ser semente é que poderá dar fruto/flor. Que sejamos como professores plantadores dessa semente que é a leitura.
Termino minha reflexão com Jorge Luis Borges: “Acho que a única coisa que a gente pode ensinar é o amor a alguma coisa...Eu ensinei, não literatura inglesa, mas o amor a essa literatura, ou melhor, já que a literatura é virtualmente infinita, o amor a certos livros, a certas páginas, talvez a certos versos”.

3-O que você entende por leitura? Como ela se dá?

Um dos capítulos da minha dissertação de mestrado (Literatura infanto-juvenil, a consciência do mundo) toca no tema da questão proposta. Vou trazer algumas ideias do capítulo para tentar responder de forma concisa a questão.
Ao encontrar-se com o texto literário, o homem tem a possibilidade de transformar e enriquecer sua experiência de vida, porque ao ler, exercita a prática da liberdade, e ao alimentar-se da leitura, desenvolve o pensamento crítico, criador. Lemos para não esquecer que somos seres humanos, finitos, incompletos, precários. Lemos para abrir as portas da compreensão do mundo, lemos para fazer parte do mundo.
Todos nós desde muito pequenos, somos leitores em formação, porque, constantemente, estamos atribuindo sentido, significado às mais diversas manifestações da cultura e da natureza. A literatura encarregada de introduzir a criança no mundo literário, pode ser utilizada como instrumento de sensibilização da consciência, no sentido de possibilitar às crianças, aos jovens serem mais críticos, capazes de ler o mundo, indagar, criar e transformar a realidade.

4- Como pode-se ensinar a ler e a produzir textos? O que é necessário que o aluno aprenda para que seja um escritor competente?

Muito se discute sobre a fórmula mágica que nos ensinaria a redigir um bom texto ou, como querem alguns, a produzir uma redação nota dez.
Como professora, não acredito que exista essa receita/fórmula mágica.
No entanto, acredito que tornando-nos leitores atentos de bons textos, assumindo uma postura crítica ante aos vários textos que se apresentam em nossa vida é possível aprimorar a qualidade de nossos textos. Como nos diz Quintana, é necessário acordarmos para o texto. Estarmos despertos para que o texto quer nos dizer. Desconfiados de textos que nada acrescentam.
É necessário também entender que produzir um bom texto não significa produzir uma obra literária. Um texto escrito para a escola não deve se confundir com um texto literário produzido para fins artísticos.
Saber escrever pressupõe, antes de mais nada, saber ler e pensar. Ler, portanto, é fundamental para saber escrever. “Os nossos conhecimentos são os germes das nossas produções”, afirmou o escritor francês Buffon.

Um comentário:

Caio Riter disse...

Bah, Marisa, parabéns pela iniciativa de criar um blog para apresentar tuas ideias e também as dos teus alunos. Escrever e ler são facetas, com certeza, de uma mesma moeda. A palavra, de fato, aproxima distâncias. Abraços, Caio